Quando a minha querida mãe me “botou” ao mundo estava certamente convicta que a minha missão na terra era a de confortar os carenciados, alumiar os apagados, beijar os maltratados, abraçar os namorados, cantar ao desafio, apagar os iluminados, ser o braço dos mutilados, consolar os amuados, amar os mal amados, acalmar os desesperados, confiar nos desconfiados, desbravar os mais fechados, libertar aprisionados, excitar os acalmados, incitar os mais parados, acalmar os irritados…aprender outros estados, outras formas de sentir, quem sabe um dia parir um mundo melhor que há-de vir!
Minha mãe sabia o que eu desconhecia. Ela foi e eu fiquei pensando que era rainha!
Mas não!
Sou rei!
Quem sabe, talvez um Gay… pois tudo aquilo que sei foi por me ter dado a quem dei!
Caga nisso, vai já dizer quem tem um pensamento Deep! Eu sei – se isso fizer e ao peito puser, as cruzes que hoje carrego, talvez possa dizer à minha mãe: - Esta Maria, tua filha, sabe o caminho que trilha, por isso a vês declamar o poema que trago até aqui: (Cântico Negro - Poemas de Deus e do Diabo- José Régio (Poemas de Deus e do Diabo)
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
È mesmo assim mãe!
Não vou por aí nem vou por aqui…não sei por onde vou!
Mas sei que chegarei até ti…
É impressão minha, ou estás a tornar-te num sério caso de estudo na área da Saúde Mental? :o.
ResponderEliminarLife is Beautiful, tira o bom, rejeita o mau lá para o inconsciente, que ele rói essa treta toda :).
Bom, o poema é estupendo.
ResponderEliminarFalando de mães, a relação com a senhora que me pariu foi bem mázinha. A sua mãe esperava tudo de si, a minha não queria uma filha :queria uma criatura sem vontade nem vida própria.
Uma boa semana.
Deep estou mesmo maradinha de todo...quem diria que ia chegar a isto!
ResponderEliminarSão, eu sei do que falas...as mães normalmente gostam de modelar tudo, as filhas, os genros as noras...vontade e vida própria? Isso não foi permitido à maioria de nós, contudo como vês no meu texto a minha mãe sempre quiz que eu fosse tudo,mesmo o que não era...
ResponderEliminarEu acho que o problema aqui é andar a divagar por onde vai ou deixa de andar às tantas da manhã! A essa hora devia estar no "sono dos deuses" para evitar um problema de saúde mental maior :P
ResponderEliminar***Bjo
Aia, tens razão devia era a uma hora daquelas arranjar um rolinho e enrolar-me a curtir a noite no âmago doa "lançoles"...
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