Escrita a duas mãos por:
Aníbal Panza & Balthasar Sete-Sóis
AMOR SEM PRECONCEITOS
Fim de mais um dia.
Uma rua quase vazia e um cão, ansiosamente despreocupado, antecipa-se a um dono já desgastado pela idade, terna, que lhe levou a mocidade.
Para não variar, o sol permanece envergonhado atrás de uma nuvem negra e enviuvada.
Luto pesado aquele que acabará por apanhar, desfeito em lágrimas de chuva, algum transeunte distraído.
As duas sementes, essas já migraram à procura de sustento e, do alto de uma janela, alguém partilha um sorriso, esboçando agrado através de um firme e azul polegar em riste.
Para mim? Não! Não era para mim com toda a certeza!
E mesmo que o fosse, seria despropositado e desproporcionado. Seria um verdadeiro despautério urbano.
Autoimobilizado, permaneci, deixando que o tempo passasse numa espécie de espera, sem agora e sem futuro!
E o telemóvel ancorado no seu espaço, sem tugir nem mugir, irritava-me solenemente.
Para que serve este mono se nada nos diz?
Esperava o quê, a uma hora destas?
Marcianos?!?
"Vai mas é dormir porque tens o sono emperrado", disse de mim para mim, num tom sereno e palaciano.
Foi o que fiz, infeliz, mas de modo diligente, porque cão de caça não espera que a presa se venha meter entre os seus dentes.
Já em casa, caí no mundo real.
Um gato esfomeado, esquisito e completamente alheado dos meus problemas, num miar repetido, insistente e persistente, esperava-me, nervosamente, para que lhe saciasse o estômago, de modo rápido e obediente.
E no fim da noite, tudo se resumia a uma mesa vazia como há muito não se via e a uma cama desnuda, de lençóis enrugados e sem pecados.
Quem sabe se esperando por um par de namorados.
Que arrepio!
Será que aquilo que sinto é uma ponta de frio?
Não, não é! É a chegada de um amor sem preconceitos.
Derrubará ele esta minha poderosa e estranguladora solidão?
Ah, maldita seja, que não tem uma gota de compaixão por este meu pobre e triste coração!
© Aníbal Panza & Balthasar Sete-Sóis
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...Simplesmente Maria.